Aldrava
A Aldrava está para a porta como o ser está para os gritos abafados, ou “a saudade que seca e estria os nervos, disseca, corrói”. É figuração do real para falar do próprio mundo interior. Ao se aproximar de um poema, o leitor encontra mundos que precisam ser explorados, portas que clamam por serem abertas. Frente a um poema, não há trancas e nem tramelas e as aldravas podem ser manipuladas de forma a que atendam aos chamados de quem está na soleira da porta.
Nave alienígena
Através de 7 contos, narrados por homens complexos e falocráticos, Divanize Carbonieri escancara personagens abusivos, violentos, tóxicos e perversos, principalmente com o gênero oposto, oriundos de diversos estratos sociais brasileiros. A obra se contrói em linguagem crua e fluida, que se condensa em uma literatura com estética elaborada, envolvente e provocante, da primeira à ultima palavra.
O homem do país que não existe
Aproveitando que está adiantado para o serviço, Santiago Ayza vai à barbearia. Ao tentar pagar, descobre que algo está errado. Tudo o que conhecia havia se transformado radicalmente. O romance de Eduardo Mahon oferece uma provocação existencial que se desdobra em projeto político. Enquanto o protagonista tenta provar que seu país de origem existe, todos os demais personagens lutam por desacreditá-lo. Antagonizando vida e fantasia, surge a esperança de misturar ambas e criar algo completamente novo para os cidadãos que convivem com o estranho Santiago Ayza.
R.S.V.P
Depois de décadas fechado, um luxuoso palacete reabrirá. Para o jantar de recepção, poucos convidados receberão o luxuoso envelope e lá saberão o dia e a hora do encontro. Mas... Quem os convida? E por quê? O conto de Eduardo Mahon mais uma vez coloca em xeque a lógica convencional e ironiza a necessidade humana de explicações racionais. Ao se aproximar do improvável, o autor pressiona o público a olhar com atenção para delicados problemas da sociedade brasileira e o jogo de aparências que a domina. Dessa vez, o fantástico está diante do leitor. Basta se sentar à mesa e devorá-lo.
Repartição
Expedito Simões é um funcionário comum. Faz parte de uma multidão de anônimos que vivencia um trabalho burocrático e maquinal. Sem qualquer razão aparente, recebe uma promoção e se torna coordenador de seu departamento. Inicialmente, acomoda-se mal na sala que não parece ter sido feita para funcionários comuns como ele. A partir de então, o protagonista precisa conviver com a própria angústia por não ter mérito algum. Eduardo Mahon prossegue a coleção Contos Estranhos com um texto que impõe a ruptura da lógica cartesiana. Uma boa dose de ironia é usada pelo autor para equilibrar o incômodo sentimento humano diante do inexplicável. Afinal de contas, até onde chegará Expedito Simões?
Sinais de chegadas: sonhos e conflitos que rasgaram territórios indígenas no coração da Amazônia
Sinais de chegadas é um romance histórico baseado em fatos verídicos. A narrativa se dá no Brasil, quando os objetivos desenvolvimentistas por parte do governo federal incluíam estabelecer o povoamento e a ligação do país com a região amazônica, por meio de rodovias.
Com o conhecimento de que, ao longo desse trajeto, existiam áreas habitadas por “índios gigantes”, foi criado oficialmente pelo governo um grupo de homens de origens, passados e objetivos bem diversos, a fim de estabelecer contato com esses povos e assim possibilitar não só a construção de rodovias, como também ocupar essas regiões.
Em meio a esse pano de fundo, o autor adentra com propriedade nas profundezas da alma dos personagens: lembranças, sonhos e conflitos transcorrem regidos pelo tempo das matas, dos mitos e dos indígenas.
O bibliófago e outros contos
Serena
Mato Grosso por Rai Reis (e-book gratuito)
Mascote do caos
Mascote do caos traz "cronicontos" divertidos que misturam ficção e realidade. Assim como sugere o título, um cãozinho, fofo e simpático, mas que “toca o terror” subvertendo a ordem das coisas, os textos de Lucas provocam no leitor(a) essa mesma sensação, pois em sua maioria partem de uma linguagem jornalistica para relatar situações bizarras de forma questionadora, criativa e divertida. Para além dos textos muito bem humorados há a sagacidade da crítica ao modo de vida da sociedade contemporânea.
Gula d’água
A voracidade poética de Luciene Carvalho em Gula d’Água expressa a sede por amor de uma mulher insaciável, Sede que não se satisfaz com pouco. O amor que permeia a obra se trata de um movimento torrencial. As três partes, intituladas cama, mesa e banho, nos direcionam para o cotidiano feminino, pois seja na cama, na mesa ou no banho sempre é tempo para o amor.
O amor apresentado na poética luciênica em Gula d’Água, apesar de toda a voracidade, é carregado de intimidade e afetividade, que são demarcadas pelo espaço de convivência em todas as estações do ano, em todas as fases da lua.
Doze contos – interpretando a miragem
Doze contos – interpretando a miragem evidencia ciclos femininos, pois marca na divisão dos meses do ano a desconstrução da imagem da mulher fixada em regras de comportamentos de cunho moralizante. Luciene rompe com a ideia homogeneizante do ser mulher ao trazer personagens que representam situações cotidianas porém, que nos fazem refletir sobre a situação social da mulher abandonada, da mulher que vive em função do outro, da sexualidade, do incesto e do trabalho. Nesse sentido, refletir sobre a escrita da mulher é se deparar com a revelação do não dito no decorrer da história.