Golpe de Vista
O conto homônimo que dá título ao livro Golpe de Vista trata do infortúnio de Azeredo que, depois da separação, decide construir uma casa em condomínio nobre. Uma vez finalizada a obra, a personagem tem a impressão de que os cômodos sofrem bruscas alterações de tamanho e vivencia o tormento da incerteza. Outros episódios insólitos chamam a atenção do leitor como, por exemplo a história de um edifício em que os apartamentos vão desaparecendo sem motivo aparente. Neste novo livro de Eduardo Mahon, há contos que possivelmente despertem polêmicas porque desestabilizam a noção contemporânea do politicamente correto como, por exemplo, a narrativa sobre uma inacreditável criação de anões. São 24 textos curtos para entreter e fazer pensar.
Antes do amanhã
A obra, dividida em duas partes, traz, na primeira, contos curtos e de forte apelo existencial distribuídos nos momentos do dia e, neste ínterim, cabe toda a vida. Um apelo sinestésico coloca quem lê na primeira fileira dos acontecimentos, sofrendo junto, morrendo e vivendo, amando e sendo abandonado, vivos ou deixados mortos.
Já a segunda parte trata do campo e do trabalho, não aquele que dignifica o homem, mas o que o aniquila. O conto, fará quem lê acompanhar a degradação do ser humano que trabalha, ama e se perde. Fortemente engajada, há o resgate da tradição social de nomes como Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto. Se, na primeira parte, predomina o urbano,
na segunda, o ambiente rural se desenha e descortina a bruta realidade.
Leia a matéria sobre o livro: https://shre.ink/DlO4
Pessoas, abóboras e coisa…
Inspirado por Luís Fernando Veríssimo, Tiago Strassburger nos apresenta vários contos e crônicas da vida cotidiana em sua mais potente das essências: o humor – rápido e inteligente. Por vezes, flerta com a fábula, em sua maneira de falar de um amor impossível; por vezes flerta com situações rotineiras como a do consumidor e seu exercício de comprar materiais de construção.
Tiago Strassburger parece colocar uma grande lupa sobre os acontecimentos na vida das pessoas – que erroneamente chamamos de – comuns e nos mostra as mais interessantes passagens dessas vidas, tirando da simplicidade e do inusi-tado charmosos e surpreendentes pontos de virada.
Se quer que algo tenha fim, não se cale.
“Se quer que algo tenha fim, não se cale” traz mais de 100 minicontos que contam histórias sobre a experiência de ser negro em Cuiabá. A obra é divida em três partes: a primeira parte, “somos compostos por urgências”, traz o cotidiano das quebradas e dos corações-quebrados, das urgências da rua e da urgência do afeto e colo das pessoas negras.; a segunda parte, “daruê malungo” são como cápsulas de vida, breves instantes que definem a vida e a morte de alguém em três ou quatro linhas; e por fim a terceira parte, “fanfics de histórias mínimas”, encerra esse tríptico e é ainda mais incisiva - uma linha (quase que em sua maioria), uma sentença, sempre entrelaçada a uma figura conhecida – a fanfic. A obra tem ilustrações de Lua Brandão
Mãe & Esparsos, Anunciados, Cotidianos
Mãe & Esparsos, Anunciados, Cotidianos são contos que se debruçam sobre questões que emergem na pós-modernidade, como o modo machista de ser de homens ou mulheres, a sociedade sexista, as violências contra minorias (de diretos), a LGBTfobia e a loucura. Em linguagem ora muito prosaica e simples, ora com um rebuscamento quase neobarroco, os contos geram o incômodo deleite cotidiano de muitas e miúdas formas de vida.
Check-in
Domingos Soares desembarca no aeroporto da distante República Popular do Bayuká e se surpreende ao ser recepcionado com honras de chefe de estado. O conto de Eduardo Mahon apresenta uma insólita coincidência. O homônimo do premiado físico nuclear desfruta de várias mordomias que lhe são oferecidas pelo regime do presidente Ho Wei. Os equívocos de lado a lado se agravam com o passar do tempo e ameaçam a vida dos envolvidos, que lutam para resolver o problema da identidade.
Companhia das Índias
Alcides é um cidadão comum, que frequenta a vida pacata de uma vizinhança pobre. Tudo muda quando o sobrado da rua é ocupado por uma família de estrangeiros. O novo vizinho oferece-lhe um presente e Alcides se vê humilhado por não poder retribuir. A partir de então, começa o frenético turbilhão do homem consciente demais de sua própria condição social. Haverá salvação? O conto de Eduardo Mahon transforma um simples aborrecimento na intrincada questão existencial do protagonista, que compartilha com os leitores a sua agonia.
Bovinos
No bistrô, o famoso médico Egon Osther percebe que há algo estranho. Na mesa distante, encontra-se uma atípica família: o boi, a vaca e dois bezerros. Esta é apenas mais uma das muitas conquistas que os bovinos alcançaram depois da revolta contra a milenar dominação humana. O conto de Eduardo Mahon ironiza discursos contemporâneos que formam consensos artificiais. Sempre irreverente, o autor alfineta o extremismo da atual polarização política. Afinal, a metáfora bovina pode recair sobre ambos os lados.
R.S.V.P
Depois de décadas fechado, um luxuoso palacete reabrirá. Para o jantar de recepção, poucos convidados receberão o luxuoso envelope e lá saberão o dia e a hora do encontro. Mas... Quem os convida? E por quê? O conto de Eduardo Mahon mais uma vez coloca em xeque a lógica convencional e ironiza a necessidade humana de explicações racionais. Ao se aproximar do improvável, o autor pressiona o público a olhar com atenção para delicados problemas da sociedade brasileira e o jogo de aparências que a domina. Dessa vez, o fantástico está diante do leitor. Basta se sentar à mesa e devorá-lo.
Repartição
Expedito Simões é um funcionário comum. Faz parte de uma multidão de anônimos que vivencia um trabalho burocrático e maquinal. Sem qualquer razão aparente, recebe uma promoção e se torna coordenador de seu departamento. Inicialmente, acomoda-se mal na sala que não parece ter sido feita para funcionários comuns como ele. A partir de então, o protagonista precisa conviver com a própria angústia por não ter mérito algum. Eduardo Mahon prossegue a coleção Contos Estranhos com um texto que impõe a ruptura da lógica cartesiana. Uma boa dose de ironia é usada pelo autor para equilibrar o incômodo sentimento humano diante do inexplicável. Afinal de contas, até onde chegará Expedito Simões?
O bibliófago e outros contos
Mascote do caos
Mascote do caos traz "cronicontos" divertidos que misturam ficção e realidade. Assim como sugere o título, um cãozinho, fofo e simpático, mas que “toca o terror” subvertendo a ordem das coisas, os textos de Lucas provocam no leitor(a) essa mesma sensação, pois em sua maioria partem de uma linguagem jornalistica para relatar situações bizarras de forma questionadora, criativa e divertida. Para além dos textos muito bem humorados há a sagacidade da crítica ao modo de vida da sociedade contemporânea.