Vencedor de Prêmio Mato Grosso de Literatura, autor compartilha sua experiência de vender livros de porta em porta
No processo de escrever e editar um livro, a divulgação é a etapa final, quase sempre discutida por último. É, no entanto, fase essencial que completa o ato de escrever: quando a obra chega ao leitor. O escritor Alexandre Tarelow, autor dos romances “Recomendações de Anchieta” (2016) e “Kuatrin” (2009), entra em contato direto com seus leitores vendendo suas obras de porta a porta.
Publicado pela Carlini e Caniato Editorial, “Recomendações de Anchieta” é dos dez vencedores do Prêmio Mato Grosso de Literatura, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC). “Mesmo quando a pessoa não tem o hábito da leitura, ela se envaidece quando recebe um escritor em sua casa ou estabelecimento comercial. A primeira reação é de desconfiança, mas depois que você se apresenta e menciona o prêmio, a desconfiança cai por terra”, contou Tarelow.
De acordo com o editor da Carlini e Caniato Editorial, Ramon Carlini, o autor é a principal chave da venda de livros. “O maior vendedor do seu livro é o autor, porque é ele quem fala com maior convicção e conhecimento de causa. Quando o escritor está presente, é difícil a pessoa não se interessar”, disse.
Além de entrar em contato direto com seus leitores, Alexandre Tarelow também coleciona várias histórias destes encontros. O escritor começou a venda de livros porta a porta quando da publicação de “Kutrin”, sua primeira obra. Veja abaixo o relato do autor sobre duas ocasiões em que ele saiu por sua cidade com os livros na mochila.
História 1
Uma das maravilhas de se vender livros de porta em porta é o contato com as pessoas, fonte inesgotável para criação de personagens e fatos que acontecem sem nos pedir permissão alguma e nos toca. Semana passada aconteceu um desses fatos. Como sempre faço toda terça pego minha bolsa e dentro dela acomodo uns dez livros e saio sem rumo certo vou onde minha intuição me leva, neste dia decidi inovar, passei numa oficina mecânica. Me apresentei e fiz a propaganda habitual, falei do prêmio Mato Grosso de literatura e dei uma passada no enredo do livro. Durante todo o processo liguei minha percepção e notei que cada vez que falava algo sobre o livro um rosto surgia embaixo de uma caminhonete que estava em reparos, ávido em saber mais sobre o assunto qual não havia sido convidado. Ao finalizar a apresentação vendi um livro, feito isso me aproximei da caminhonete, me inclinei e mesmo sem ver ninguém perguntei na certeza em saber que havia alguém:
—Oi Boa tarde! O amigo gosta de romances de ficção? —perguntei na confiança da resposta que não tarda à vir, sem jeito o rapaz todo sujo de graxa responde meio sem graça mostrando certo desconforto:
—Se o senhor não achar ruim receber dia vinte, queria dois! —neste dia vendi dez livros.
História 2
Há mais ou menos cinco anos, andava pela rua quando um indivíduo que era amigo de longa data me parou arfante e disse:
—Cara li seu livro Kuatrin! É muito bom! —era uma pessoa que a vida não lhe destinara um caminho fácil, viciado em narcóticos, estava sempre em apuros e aos trapos, eu o conhecia há anos, realmente estava bem decadente, não lembrava nem de longe o jovem saudável de outrora e até alguns dentes já lhe faltavam. Perguntei onde havia conseguido, já que não tinha vendido a ele. Ele disse que tinha pegado emprestado. Aquela cena ficou gravada em minha cabeça… Eu já havia sido protagonista naquele tipo de filme!
Quando o “Recomendações de Anchieta” chegou, um tinha destino certo, com minha mochila da sorte fui ao encontro do meu amigo, já o estava sondando a algum tempo e sabia onde ele estaria. Cabelo cortado, próteses dentárias colocadas, roupas decentes e barba aparada, me reconheceu de pronto:
—Fala, meu amigo escritor! Veio vender livro? —se referindo à loja de material de construção qual estávamos.
—Não, só vim trazer o seu livro!
—Mas não tenho dinheiro! Tô duro!
—Não esquenta cara, só de te ver assim já me pagou! —meu amigo se tornou evangélico e hoje depois de cinco anos quando me parou na rua, luta uma batalha diária para se manter um homem de bem! Este livro não vendido me deu mais retorno que muitos vendidos…
Sobre o autor
Nascido em São Paulo, Alexandre Tarelow mudou-se para Mato Grosso para trabalhar como professor. Atualmente, mora no município de Araputanga, onde dedica-se exclusivamente à literatura.
O gosto por escrever se apresentou desde cedo, enquanto ainda estava na escola. No entanto, somente na idade adulta que Tarelow decidiu dedicar-se ao ofício. “Na escola as professoras me repreendiam que sempre eu estourava o limite de minhas redações, e quando dava aula sempre escrevia no quadro negro, nunca usava livros. Então por estas pistas mesmo sem eu saber minha alma implorava para que encontrasse este caminho”, contou.
Em 2009, publicou o romance “Kuatrin”, pela Carlini e Caniato Editorial. Este primeiro livro também é baseado em lendas indígenas. O personagem principal, Kuatrin, é inspirado na “lenda da cobra grande”. A história retrata um enredo cheio de ação e aventura. Saiba mais AQUI.